Uso de canabidiol se consolida na epilepsia sem resposta a tratamentos convencionais – Jornal da USP

De entendimento com o médico, a doença tem várias causas. “Pode ser um tanto que está irritando o cérebro, um tumor que irrita o cérebro, uma malformação. Ou até uma diferença degenerativa, em que o hipocampo [região do cérebro] começa a se degenerar, o que chamamos de esclerose mesial temporal”, exemplifica. Ele ressalta a diferença entre crise epiléptica e convulsão. “Convulsão é o fenômeno motor, é a pessoa ter aqueles abalos musculares durante a crise epiléptica, mas nem toda a crise epiléptica é convulsão.” Porquê exemplo, cita casos de intoxicação alcoólica em que ocorrem convulsões e não são casos de epilepsia.

Outra doença que pode ser confundida com a epilepsia é o Parkinson. Enquanto a primeira é resultante de uma atividade elétrica irregular no cérebro que causam as crises, a outra doença é neurodegenerativa e afeta a produção de dopamina, neurotransmissor necessário para coordenação motriz. Para controlar essa anormalidades específicas da crise epiléptica, Santos explica que “o canabidiol tem um mecanismo de ação mediado pelo sistema endocanabinoide, que tenta indemnizar a hiperexcitabilidade aumentando a produção de endocanabinoides”. 

Esse sistema foi  identificado em 1992 por um grande grupo de cientistas. Ele é constituído de neurotransmissores produzidos pelo organização humano – os chamados endocanabinoides – e de seus receptores, porquê os CB1 e CB2, presentes em diversas partes do corpo, incluindo o cérebro e o sistema nervoso mediano e periférico. Ele desempenha um papel importante na regulação de processos porquê dor, inflamação, gosto, sono e humor. Estudos recentes destacam a capacidade de reduzir a sensação de dor, influenciar a memória e proteger o sistema nervoso em alguns casos. 

“O sítio de relação [do sistema endocanabinoide] desse ativo específico [canabidiol] vai ter várias ações que acabam controlando as crises. O ativo aumenta o limite da pessoa a convulsão”, explica o pesquisador. “É uma lógica semelhante a das medicações comuns, só que por uma outra via. As medicações clássicas vão agir no conduto de sódio da membrana celular, por exemplo, bloqueando esse conduto. A célula fica menos excitável com menor capacidade de gerar uma crise.” A comunidade científica ainda não compreendeu totalmente porquê o CBD interage no sistema.