Anita Krepp | Cannabis na Argentina não é urânio enriquecido

Vim para a Argentina com a teoria de observar de perto e entender uma vez que, exatamente, funciona a indústria da maconha no país vizinho –e é isso o que tenho feito.

Para prelúdios de conversa, o estigma sobre a vegetal é quase inexistente. Os argentinos normalizaram o uso da cannabis, seja para fins medicinais ou recreativos. Alguns bairros de Buenos Aires cheiram a Times Square, ou seja, exalam cannabis, e as forças policiais já não se concentram em perseguir os responsáveis pela boa odorização ambiental. Eles têm mais o que fazer.

Essa é uma percepção pessoal chancelada pelas conversas que venho tendo com atores do mercado. Embora não haja pesquisas com dados sobre a evolução da percepção dos argentinos sobre a relva ao longo dos últimos anos, dados do Statista publicados em abril de 2024 mostram que 31% dos argentinos estariam dispostos a testar cannabis para fins medicinais, enquanto que, no Brasil, esse número é de 25%. No Chile, são 24%; na Colômbia, 21%; no México, baixa para 20% e, no Peru, 17%. Podemos, portanto, declarar que os argentinos são a população mais ocasião para o tema na América Latina.

Aliás, faz tempo que os nossos hermanos naturalizaram a medicina da natureza, ainda que o entrada a ela só tenha se popularizado mesmo a partir de 2021, durante a Presidência de Alberto Fernández.

Bocas maldosas dizem que esse foi o único legado positivo deixado por leste governo, que lançou a Reprocann, um programa de registro de pacientes de cannabis e de associações de cultivo que, por cá, são chamadas de ONGs. Há 4 anos, portanto, o ecossistema prateado da cannabis vem se organizando e criando soluções para atender às mais de 300 milénio pessoas inscritas no programa.

E tudo isso sem Anvisa (Escritório Pátrio de Vigilância Sanitária) no meio, pois as regras para a cannabis, por cá, partem da Ariccame, filial reguladora formada por representantes do Ministério da Saúde, da Justiça e do Agro, especificamente criada para regular a vegetal, o que se prova mais efetivo e muito menos propenso ao jogo do empurra que sói intercorrer no Brasil.

EFEITO MILEI

Estar inscrito na Reprocann confere ao tipo o recta de cultivar o seu próprio remédio (com até 9 vegetação por pessoa), o que resultou numa expansão das lojas dedicadas ao tema. Hoje, já há mais de 2.200 growshops espalhadas pelo país. No Brasil, segundo dados da Kaya Mind, temos só 40. A maior secção dos inscritos, no entanto, opta por se associar a uma ONG que fica responsável pelo plantio e distribuição entre os associados. Cada uma pode atender até 150 pessoas.

Anita Krepp/Poder360

Na imagem, cultivo de cannabis na Argentina

Esse limite no número de pacientes por associação propicia o surgimento de várias delas. Até o momento, 51 ONGs estão registradas na Reprocann. Outros milhares de pedidos de sinceridade estão parados, à espera da aprovação do governo de Milei.

Desde a ingresso do novo presidente, em dezembro de 2023, há uma próprio vagar nas autorizações requeridas, tanto por pacientes quanto por associações, por razão da exigência de novos requisitos que, apesar de burocráticos, não chegam a colocar a regulamentação conquistada em risco.

Enquanto que, no Brasil, o óleo é o carro-chefe de cannabis medicinal, produzido e distribuído pelas principais associações de pacientes (das 237 existentes, só 16 têm autorização de cultivo), na Argentina, é a flor quem dá as cartas. É evidente que também há demanda para o óleo, mas a estimativa é de que 80% dos medicamentos dispensados sejam no formato de flor in natureza –sim, esse mesmo que a Anvisa vetou aos brasileiros quando, em 2023, proibiu sua importação.

O cultivo das flores medicinais na Argentina pode ser feito tanto outdoor quanto indoor, que costuma ser a modalidade preferida de quem não dispõe de muito espaço e faz questão de ter maior controle dos ciclos da vegetal. Não há exigências estapafúrdias em nenhum dos casos, e o GMP (selo de qualidade da indústria farmacêutica) só se faz necessário em casos de exportação para alguns países específicos. Na Argentina, a cannabis não é tratada uma vez que se fosse urânio enriquecido, o que facilita a vida de todo mundo.

A GRAMA DO VIZINHO É, DE FATO, MAIS VERDE

Estranhou que, até agora, eu não falei em indústria farmacêutica? É porque, na Argentina, ela simplesmente não está envolvida com a cannabis. As explicações vão da resistência dos diretivos ao tema até sobre a maconha ser uma solução simples, abrangente e pouco rentável, uma vez que se trata de uma vegetal que pode ser cultivada no quintal de mansão.

Anita Krepp/Poder360

Na imagem, vegetal de cannabis em cultivo na Argentina

Aos empreendedores que se arriscam a penetrar ONGs de guarida aos pacientes, há um mar azul de oportunidades pouco reguladas. Uma operação para produzir e dispensar 12 kg por mês, por exemplo, com faturamento mensal de US$ 40.000, pede um aporte na mansão dos US$ 200 milénio, que cobre o investimento inicial por volta dos 12 meses. Zero mal.

A hiper-regulação que a gente observa uma vez que tendência na maconha medicinal brasileira não existe na Argentina, onde os empreendedores têm liberdade para produzir produtos variados para além da flor in natureza, uma vez que gominhas, cremes e pomadas sem ter que pedir nenhuma autorização em próprio. Os gerentes das ONGs, em universal, têm uma relação de proximidade com cada um dos 150 associados, e vão incluindo soluções no seu portfólio à medida em que haja demanda.

Algumas dessas organizações estão aproveitando para produzir uma banco de dados dos pacientes para estudo da efetividade do tratamento caso a caso, um tipo de relação com o paciente que não se vê na maioria das associações no Brasil, mormente nas maiores, que chegam a atender 40.000 pessoas por mês com um lucro mensal de mais de R$ 12 milhões.

Será que não faria mais sentido penetrar licença para mais associações, estabelecendo número sumo de pacientes e, assim, promover um atendimento de maior qualidade aos pacientes que delas dependem?