Mãe denuncia retrocesso após Estado de MG suspender medicamento de criança com epilepsia severa

Mãe denuncia retrocesso após Estado de MG suspender medicamento de criança com epilepsia severa

Quando Hugo nasceu, ninguém imaginava o que estava por vir. A invenção da rara malformação neurológica veio cedo, mas os caminhos até um tratamento efetivo foram longos, dolorosos e cheios de incertezas. Foram muitas crises convulsivas, internações e a perda progressiva de movimentos, até que, aos dois anos, Hugo finalmente encontrou qualquer consolação no uso da cannabis medicinal. Desde portanto, ele e sua família respiraram um pouco mais aliviados. Até agora.

Há poucos meses, o Estado de Minas Gerais interrompeu o fornecimento judicial do medicamento à base de cannabis que Hugo vinha usando desde 2019. E com isso, tudo o que havia sido conquistado em seis anos de luta e pequenas vitórias parece estar escorrendo pelos dedos da família.

“A justiça alegou prejuízo orçamentário para o Estado e o município. Mas para mim, isso não é número, é a vida do meu fruto. É ele voltando a convulsionar, a endurecer, a perder o ar. E eu ali, impotente, sem poder fazer zero”, conta Élina Monteiro, mãe de Hugo, emocionada.

Um diagnóstico que mudou tudo

Hugo tem 8 anos e nasceu com uma malformação neurológica chamada polimicrogiria, além de agenesia do corpo caloso, encefalopatia e calcificações no sistema nervoso mediano. Os primeiros sinais surgiram ainda nos primeiros meses de vida, quando ele teve sua primeira convulsão. A partir dali, a rotina da família mudou completamente.

Durante os primeiros dois anos de vida, Élina e o marido peregrinaram por diversos centros médicos em procura de alguma forma de controlar as dezenas de crises diárias. Foi só posteriormente saber o trabalho do neurologista Dr. Américo Sakamoto, em Ribeirão Preto, que veio a indicação do uso do canabidiol (CBD), um tratamento até portanto envolvido em tabus, mas que daria ao pequeno Hugo a chance de viver com mais honra.

Cannabis, a esperança em gotas

A primeira récipe foi do Puridiol, importado com liberação da Anvisa mediante ação judicial. Em pouco tempo, os resultados começaram a desabrochar: Hugo saiu de 89 crises por dia para exclusivamente uma ou duas, menos intensas e mais fáceis de manusear. “A gente sabia que não era uma tratamento milagrosa, mas era um respiro. Hugo começou a interagir, a responder aos estímulos, ganhou firmeza no pescoço, passou a levar a mãozinha à boca. Coisas que antes eram impossíveis”, relata Élina.

O tratamento com cannabis trouxe ganhos físicos e emocionais. Com menos crises, Hugo pôde aproveitar melhor as terapias, se nutrir com mais segurança e ter momentos de silêncio em morada. “Ele cercava a gente com o olhar. Tinha dias que ficava sem nenhuma crise. Era uma vez que se a gente tivesse, finalmente, encontrado um caminho”, ela diz.

A interrupção e o retrocesso

 

Hugo voltou a ter crises convulsivas posteriormente o bloqueio do medicamento pelo SUS, família nao consegue arcar com o valor do medicamente | Foto: Registo Pessoal

Mas esse caminho foi interrompido. Em seguida seis anos de fornecimento regular pelo SUS, via decisão judicial, um novo julgamento revogou a liminar que garantia o aproximação ao medicamento. A justificativa: impacto no orçamento público e escassez de aprovação do medicamento pela Anvisa.

“A decisão foi um choque. A sentença dizia que o fornecimento não podia continuar para não originar prejuízo ao orçamento do Estado. Mas quem vai arcar com o prejuízo da vida do Hugo? Quem vai remunerar pelas crises que voltaram, pela dor dele, pela nossa insuficiência? Isso não é só desumano, é capacitismo institucionalizado”, desabafa a mãe.

Desde a interrupção, Hugo voltou a convulsionar com frequência. As crises são fortes, assustadoras. “Outro dia, ele teve uma crise com cianose, ficou todo duro. Eu gritava desesperada, sem saber o que fazer. Tive que passar para aspirar, colocar oxigênio, e proteger a língua com uma cânula. É uma vez que voltar ao pesadelo que a gente já tinha vencido”, revolta-se a mãe.

Uma luta de uma mãe

 

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Élina não mede esforços para ver o fruto com qualidade de vida | Foto: Registo Pessoal

Moradora de Varginha (MG), Élina sente que está sozinha nessa guerra. “A rede de pedestal cá é frágil. A sociedade ainda vê a cannabis com preconceito, e poucos políticos se importam. A mídia também parece fechar os olhos. É uma sensação de desabrigo”, diz.

Apesar disso, ela segue lutando. Já recorreu da decisão, mobilizou advogados, deu entrevistas à prelo sítio e usa as redes sociais para pedir ajuda. Mas, uma vez que ela mesma diz, “isso não é só por mim. É por todas as mães que sabem o que a cannabis representa na vida dos seus filhos”.

Aqui ela gravou um vídeo explicando a dificuldade que Hugo tem sentido com a escassez do canabidiol.

“Cannabidiol é vida”

A frase é curta, mas carrega toda a vivência dessa mãe. Élina tem uma mensagem clara para as autoridades e para a sociedade. “A cannabis trata. A cannabis tratamento. E o que eu peço é que não fechem os olhos para isso. Não se trata de ideologia, mas de humanidade. O Hugo é uma rapaz. Ele precisa da medicação. O que está em jogo cá é a vida dele”, finaliza a mãe.

Enquanto aguarda uma novidade decisão judicial, Élina continua sendo a voz incansável de um fruto que depende do medicamento para ter o que toda rapaz merece: a chance de viver muito. 

A equipe do Portal Sechat entrou em contato com a 2ª Vara Federalista da Justiça Federalista – Seção Judiciária de Minas Gerais, responsável pela decisão que suspendeu o fornecimento do canabidiol ao paciente Hugo. Até o fechamento desta material, não obtivemos retorno.
 

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