Entre fake news e resultados pouco lisonjeiros, a desestigmatização do objecto permitiu a meio de muitas pesquisas
Todo abril é a mesma coisa: eu fico pensativa, fazendo balanço dos últimos avanços da cannabis e dos psicodélicos.
Calhou de os 2, aliás, serem mundialmente celebrados em dias consecutivos –os psicodélicos, em 19 de abril, dia em que Albert Hofmann experimentou pela 1ª vez LSD e saiu pra dar um passeio de bicicleta; e a cannabis, no dia 20, por conta do símbolo mundialmente divulgado, 4e20– horário que os estudantes da Califórnia costumavam se encontrar pra fumar juntos um fundamentado, ao transpor da escola.
Tudo isso me fez pesquisar mais sobre o espelhamento da cultura 4e20 no Brasil e o surgimento dos primeiros encontros entre pessoas que orbitam esse universo cá no país –que se deu lá pelo termo dos anos 2000, com a organização e autogestão de cultivadores e interessados na vegetal que integravam fóruns de discussão na internet. Esses fóruns serviram de base para todo o conhecimento que, alguns anos depois, em 2014, foram utilizados para instruir as mães no cultivo do remédio de seus filhos.
Desses fóruns também veio a inspiração para as primeiras reuniões de gente da cena que começava a ter coragem de falar publicamente sobre a vegetal. Há menos de 20 anos, falar sobre maconha ou psicodélicos era praticamente proibido. O corajoso que se arriscasse a fazê-lo teria uma vez que resposta um silêncio ensurdecedor tão logo a vocábulo “maconha” fosse proferida. Hoje, vejam só, estamos cá, conversando sobre a vegetal em diversas escalas de atuação, com conexões em todas as esferas da vida e do conhecimento.
MACONHA NÃO MATA NEURÔNIO
Mudar a perspectiva desta maneira pode nos ajudar a ver com mais transparência o quanto, de trajo, a cannabis se normalizou no cotidiano dos brasileiros. Esse espaço seguro para discutir a relva cria muitos benefícios, sendo o mais importante deles os estudos e as pesquisas que têm por objetivo desvendar todos os meandros da maconha, uma vegetal da qual conhecemos só uma pequena secção de todo o seu potencial.
É impressionante a quantidade de descobertas que o termo do estigma sobre a relva possibilitou nas últimas duas décadas: controle de epilepsias de difícil tratamento, subtracção de enjoos em pacientes de cancro em quimioterapia, devolvendo, assim, o gosto e o ânimo dessas pessoas, atuação de modo eficiente em casos de dor crônica… E a lista segue.
Além de saber a utilidade da relva nas patologias, chegamos a entender padrões de uso que podem colocar em risco a saúde da população –e isso não deve ser percebido uma vez que desfavorável, enfim, estamos somente começando a identificar esse tipo de coisa. E o que vamos fazer com os resultados negativos? Educar as pessoas, mostrando que sim, embora se trate de uma vegetal que pode ser cultivada no quintal, ela pede certos cuidados básicos.
Faz tempo que mitos do tipo “fumar maconha mata neurônio” caíram por terreno. Muito antes, pelo contrário, foi graças às pesquisas que descobrimos que, na verdade, a maconha promove a neurogênese, criando conexões neuronais.
Esse fenômeno se torna mais vantagoso à medida que a idade avança, de modo que o seu avô tem muito mais a lucrar com o uso da vegetal do que o seu sobrinho jovem. Com isso, ganhamos argumentos –o que nos permite deixar as ameaças– para falar para um jovem de 25 anos que a maconha não é a coisa mais indicada para ele naquele momento da vida. Isso é empoderamento.
FAKE NEWS SE ARRASTAM FEITO PÓLVORA
Esses dias, saiu no New York Times a história de um médico urologista dos EUA cujos pacientes vinham com a incerteza se o uso de maconha afeta a fertilidade masculina –e ele não tinha uma resposta exata sobre isso. Enquanto estudos realizados na Jamaica e na Jordânia com mais de 500 homens indicavam que a cannabis deixava os espermatozóides mais lentos, causando mudanças em seu DNA, o que dificultaria a fecundação, outras pesquisas, por sorte, indicavam que esses danos podem ser reversíveis e que a indicação para o varão que quiser ter filhos é deixar o THC por, pelo menos, 3 meses.
Ou seja, o pouco que se sabe sobre a ciência da cannabis pode tanto ajudar os casais que querem engravidar quanto ser uma utensílio para os que não quiserem.
Eu trago esse exemplo para mostrar o zelo que precisamos tomar com alguns dados que circulam mais rápido que rastro de pólvora e podem ir do New York Times ao Quotidiano do Grande ABC em 2 dias. Ainda mais se forem do tipo sensacionalistas e alarmantes, uma vez que uma notícia que circulou no termo de março, dizendo que usuários de maconha teriam 6 vezes mais chance de suportar um infarto do que quem não fuma. Um verdadeiro desserviço, ainda mais nesta nossa sociedade que só gosta de ler título e, com muito boa vontade, a traço fina. (Um salve para você que está lendo até cá!).
Para entender melhor essa informação impactante e saber, enfim, se o tal estudo era confiável, fui conversar com um cardiologista técnico em medicina canabinoide. De faceta, o dr. Hélio Pires classificou o estudo uma vez que sensacionalista e tendencioso, ao não apresentar critérios claros sobre o perfil do que consideraram usuários de maconha e sem especificar detalhes cruciais uma vez que a frequência, a quantidade do uso e a forma de gestão.
Depois, fatores uma vez que tabagismo, consumo de álcool, uso de drogas ilícitas, uma vez que a cocaína, e a presença de doenças preexistentes, uma vez que hipertensão e diabetes, não foram adequadamente considerados. Tudo isso torna o estudo problemático, pois sem um controle rigoroso dessas variáveis, fica difícil espetar que é realmente a cannabis que está afetando a saúde cardiovascular dos participantes ou se são esses outros fatores.
Neste 20 de abril –ou 4e20–, há muito o que se festejar, mas é bom estarmos de olhos abertos, enfim, se, por um lado, temos que admitir e saber trabalhar com as notícias “negativas” sobre a maconha, com as falsas ou mal interpretadas é preciso rechaçar logo de faceta, para que não vire uma fake news com potencial de fugir de São Bernardo (SP) à Manhattan (EUA).
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