Ribeirão Pires deu um passo inédito na saúde pública ao inaugurar, no dia 19 de março, a primeira clínica pública do Brasil voltada ao tratamento com cannabis medicinal produzida no território vernáculo. A iniciativa da Prefeitura, em parceria com a Associação Terapia Flor da Vida, oferece aproximação gratuito a óleos à base de canabidiol para pacientes da rede municipal de saúde e abre caminho para que esse protótipo seja replicado em outras cidades do ABC, por meio do Consórcio Intermunicipal.
Em entrevista ao RDtv, Enor Machado de Morais, presidente da Associação Flor da Vida, destaca que a clínica representa uma selecção alcançável e eficiente para pacientes que necessitam do tratamento, mas enfrentam dificuldades para obtê-lo pelo sistema público. “O Estado não oferece esses medicamentos gratuitamente, e as empresas que os comercializam cobram valores inacessíveis para a maioria da população. O que fazemos na Flor da Vida é preencher essa vácuo, garantindo que as pessoas tenham aproximação ao tratamento sem precisar arcar com custos exorbitantes, e, no horizonte, expandir a iniciativa para outras cidades”, diz.
Início do projeto
A Associação Flor da Vida, que viabilizou a parceria com o município, é referência na produção de óleos medicinais derivados da cannabis e possui sede em Franca (SP), onde opera em um espaço de 16 milénio metros quadrados. Atualmente, a entidade atende muro de 20 milénio pessoas e conta com um quadro de 90 funcionários, oferecendo atendimento multidisciplinar a seus associados.
A geração da associação foi motivada pela experiência pessoal de Morais, que buscava alternativas para tratar seu sobrinho Eduardo, diagnosticado com TEA aos dois anos. Conta que, em 2017, já havia associações funcionando dentro da legislação vigente, motivando a procurar a medicação.
“O primeiro óleo que conseguimos importar custava R$ 2.2 milénio. Não tinha porquê manter o tratamento com esses valores. Foi portanto que começamos a plantar a variedade Charlotte’s Web, conhecida por seu supino texto de canabidiol, e conseguimos produzir um óleo de qualidade”, conta. Diante da situação, Morais criou interesse em viabilizar o aproximação a cannabis medicinal através do terceiro setor.
A clínica visa atender até 50 pacientes por mês e prioriza moradores com TEA (Transtorno do Espectro Autista), Alzheimer, Parkinson, epilepsia e fibromialgia, se cadastrados no CadÚnico e apresentem receita médica. No lugar, pacientes da rede pública passarão por triagem multidisciplinar, envolve médicos, psicólogos e assistentes sociais, que avaliarão os pedidos antes da liberação do medicamento.
Para Morais, a geração da clínica em Ribeirão Pires é o primeiro passo para a ampliação desse protótipo para outras cidades. A Flor da Vida já iniciou diálogos com o Consórcio Intermunicipal do ABC para a iniciativa se estender a municípios vizinhos. “Começamos em Ribeirão Pires por já ter leis voltadas para a cannabis, mas esse projeto pode ser replicado em outras cidades. Já estivemos em Mauá e logo participaremos de um evento no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo para discutir essa expansão”, comenta.
Desafios
A burocracia ainda é um grande entrave para o aproximação à cannabis medicinal no Brasil. Embora a Anvisa regulamente o uso da substância para determinados tratamentos, os medicamentos disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde) são importados, limitando a oferta. Atualmente, somente pacientes com esclerose tuberosa, síndrome de Dravet e síndrome de Lennox-Gastaut podem ter aproximação ao tratamento na rede pública.
Para Morais, a clínica pública de Ribeirão Pires se diferencia por não depender de recursos municipais para funcionar, explicando que o objetivo da parceria com a Prefeitura não é obter financiamento, mas sim estruturar um protótipo que seja expandido. “Não queremos um real da Prefeitura. Queremos que essa teoria cresça e se torne um protótipo de guarida para outras cidades. A cannabis medicinal não pode ser um privilégio de quem paga. Estamos falando de democratização do aproximação à saúde”, diz.
Para receber o medicamento, os pacientes precisam apresentar receita médica, comprovante de residência em Ribeirão Pires e estar cadastrados no CadÚnico. Caso o paciente ainda não tenha uma receita, a Flor da Vida conta com uma equipe de mais de 25 médicos especializados, que podem facilitar na receita. A clínica está localizada no Núcleo Ibrahim Alves de Lima, perto da Fábrica de Sal, localizada na avenida Humberto de Campos, 84, na Vila Suissa.
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